Versão Brasileira: Dublador

Imagem de microfone de dublador em estúdio

Não é incomum eu chegar em alguns lugares como cinema, teatro e até mesmo em uma roda de conversa de amigos, e escutar a frase “Eu quero ser um dublador!”.

Para mim é impossível conter um sorriso quando escuto isso. A empolgação com que eu olho essas pessoas ao se referirem ao assunto “dublagem” faz com que me lembre de mim quando era criança e do meu sonho em ser uma dubladora.

Crescendo em um ambiente em que a televisão era ainda o meio de lazer “mais seguro”, meu interesse por desenhos e filmes cresceu. Terminando de assistir a um desenho aqui, indo assistir a um filme acolá, fez com que eu despertasse um gosto peculiar (e por que não dizer “paixão”?), pelas vozes das personagens dos programas que tanto gostava. Não sei dizer quando foi que passei a reconhecer as vozes dos dubladores em diferentes trabalhos a que assistia, mas muito me admirava em como uma mesma pessoa podia criar tantas vozes diferentes para diversas personagens.

Curiosidade instigada, eu comecei então a pesquisar mais sobre dublagem, dubladores e sobre “como ser um dublador”. E é claro que eu não posso esquecer-me de citar que passei a “experimentar” a criação de diferentes vozes, tomando como base minhas personagens e vozes de dubladores favoritos.

Hoje, passados quase 20 anos desde o meu primeiro pensamento em ser uma dubladora, é com nostalgia e certo humor que me relembro desses fatos e com grande satisfação em dizer que há pouco mais de 10 anos consegui fazer de um sonho realidade. E da garotinha que tanto falava que queria ser dubladora, tornei-me uma mulher que pode dizer: “Sou uma dubladora.”.

Digo que esse não é um caminho fácil de se trilhar, apesar do que muitos pensem ou digam. Mas, com as informações necessárias, vocês saberão como dar o pontapé inicial nessa área que encanta a muitos.

Aqui eu deixo algumas dicas básicas sobre o assunto.  Espero que gostem e que essa informações possam ajudá-los de alguma forma. =)

Mas, afinal, o que é dublagem?

Entende-se por “dublar” a ação de se substituir a voz original de produções audiovisuais pela voz e interpretação de um ator de dublagem quase sempre em outro idioma.

É possível também encontrar trabalhos em dublagem feitos no mesmo idioma. Quando isso ocorre, tem-se como objetivo melhorar a entonação do som original ou para melhorar alguma possível falha que tenha ocorrido na captação do som.

Tenho o desejo de ser dublador. E aí, o que eu faço?

Antes de destrincharmos esse tópico, gostaria de esclarecer uma confusão muito comum quando falamos de dublagem: o profissional “dublador” não existe de fato, mas sim o “ator que segue o ramo de dublagem” ou “ator de dublagem”.

O dublador, antes de tudo, é um ator que se especializou na área de dublagem.

Assim, o passo número 1 para ser um dublador é:

#Ser um ator devidamente registrado.

Se você realmente quer ser um dublador, esse é o quesito básico para seguir a área. A formação de ator fornece a base necessária para dublagem (concentração, interpretação, trabalho vocal e respiratório, interpretação e muitos outros).

Sob meus olhos, dublar é emprestar a sua voz a uma personagem para que a mesma possa expressar suas ideias e sentimentos. Assim, o trabalho de interpretação do ator é uma das principais ferramentas para a dublagem.

Desta forma, se vocês realmente têm o interesse em seguir a dublagem, digo-lhes para investirem­ na formação de ator. Não perca tempo, pois, sem essa formação, não é possível atuar na dublagem.

Muitas pessoas acham que dublar é algo simples. Que é só entrar num estúdio e sair colocando falas na boca da personagem.

Eis um grande engano! Dublar não é uma arte tão simples assim.

Quando você entra num estúdio de dublagem, você se depara com alguns materiais de trabalho: bancada para o apoio do texto, texto, microfone, televisão, fones de ouvido. Enquanto se dubla, você deve estar atento à cena que está sendo mostrada na tela, ao texto que te indica as falas da sua personagem, ao áudio original que lhe é transmitido por meio do fone… Você deve estar preparado para transmitir as informações do texto enquanto você vê e escuta a cena, de forma a sincronizar a sua fala com a “boca” da sua personagem, além de estar atento as informações que o diretor de dublagem lhe transmite por meio do mesmo fone de ouvido usado para escutar o áudio original do trabalho.

Complicado?

É aí que chegamos no nosso passo número 2:

# Fazer um curso de dublagem.

O curso de dublagem fornece as noções básicas de como trabalhar dentro de um estúdio de dublagem, indo desde o reconhecimento do seu espaço de trabalho (o estúdio de dublagem é uma estrutura maior, sendo dividida em espaço técnico – destinado ao diretor e técnico – e estúdio – onde o dublador realiza seu trabalho); de seu equipamento de trabalho (já citados anteriormente), da linguagem técnica e “linguagem da dublagem”; dos profissionais que trabalham com você (diretor de dublagem e o técnico, bem como de outros dubladores que podem dividir o estúdio com você ao mesmo tempo para a gravação de algumas cenas, como em caso de “vozerios”).

A partir daí, o treino se torna o melhor aliado de um dublador. Mesmo sendo confuso ou difícil no início, com muito treino vocês conseguirão desenvolver habilidades para realizar o trabalho de dublagem. Mas, lembrem-se: pratiquem muito!

No mercado são oferecidos muitos cursos de dublagem, por diferentes estúdios. Há cursos para todos os gostos e bolsos. Mas uma coisa eu lhes oriento: procurem por um curso com uma boa estrutura e que possibilite com que vocês tenham o maior tempo de treino individual dentro do estúdio.

Muitos dos cursos oferecem excelente estrutura, mas um tempo de trabalho individual muito curto. Por normalmente terem mais de um aluno dentro de estúdio, o tempo para que cada um possa “experimentar” dublar durante as aulas se torna corrido, pois acaba sendo necessário revezar várias vezes o microfone com os demais colegas.

Por isso, antes de fecharem um curso… Pesquisem ao máximo sobre as escolas de dublagem, tentem conversar com pessoas que já realizaram o curso no local que vocês têm interesse e, se possível, perguntem se vocês podem fazer uma aula experimental para conhecerem o espaço físico, condições e dinâmica das aulas.

Sou ator. Terminei o curso de dublagem. O que vem agora?

Passados os dois passos anteriores, preparem-se: agora é a hora da verdade!

A realidade é que, terminado o curso, vocês devem estar preparados para visitarem e se apresentarem aos diversos estúdios de dublagem. Só assim poderão saber que vocês são um profissional novo no mercado.

Desta forma, vocês devem procurar entrar em contato com o estúdio e solicitar para ou fazerem um registro de voz ou um estágio em dublagem junto a eles. Cada estúdio possui uma dinâmica diferente. Por isso, informem-se antes de ir bater na porta dos estúdios.

Aqui eu volto a reafirmar algo que disse no início dessa matéria: a dublagem não é um caminho fácil de trilhar. E o por quê disso? Eu lhes conto: há muitos profissionais no mercado e nem todos os estúdios acabam absorvendo essa grande demanda.

Pode acontecer de vocês entrarem em contato com um estúdio e ele lhes informar que não está realizando nem registro de voz nem estágio em dublagem. Em outros casos, vocês podem até participar de uma dessas duas atividades, mas acabam não sendo chamados por mais que escutem “Nós vamos te escalar para um trabalho. Aguarde.”.

Assim, tudo o que posso lhe dizer é: não desanimem!

Muitos acabam desistindo pela dificuldade ao acesso e pelo afunilamento que existe no mercado de dublagem.

“Nãos” sempre irão existir, mas se não insistirmos, nunca saberemos aonde conseguiremos chegar, não é mesmo? Falo isso por experiência própria e por ser uma profissional que, por mais que tenha mais de 10 anos de trajetória, às vezes ainda me deparo com dificuldades de quem está entrando no mercado.

Por isso, não desistam!

A linguagem nos estúdios.

Quando eu disse da linguagem técnica e da “linguagem em dublagem”, não quis dizer nada muito estranho. Na verdade, são algumas palavras e expressões que nos utilizamos para nos referir ao dia a dia no trabalho. Por exemplo:

Anel: é a divisão realizada no texto em trechos que correspondem ao tempo de, aproximadamente, 20 segundos.  20 anéis compreendem o tempo de uma hora de trabalho de dublagem.

Bife: refere-se a quando uma personagem tem uma fala muito grande.

Escala: quando um ator é chamado para fazer uma personagem.

Mixar: é o processo de sincronizar as falas e ajustar o volume do áudio, realizado pelo técnico após o término da gravação de um trabalho.

Sinc.: abreviação para “sincronização”. Quando o dublador grava a fala da personagem, ele deve sincronizar sua fala com a “boca” da personagem na cena que está sendo apresentada na tela.

Vozerio: quando um grupo de dubladores, estando todos juntos dentro do estúdio, fala ao mesmo tempo para simular um ambiente onde muitas pessoas estão conversando, gritando, festejando, etc.

E antes de terminar…

Por favor, nunca, mas nunca digam para um dublador “imitar” alguma personagem. Pode até parecer implicação, mas um dublador não imita ou copia (como já escutei), mas sim faz! Ele é um ator, um Ator Criador! Portanto, ele se utiliza das ferramentas que adquiriu ao longo de sua formação e vivência para experimentar e criar algo genuíno, de forma a “emprestar” à sua personagem e por meio de sua voz se expressar.

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Thayná Cavalcanti é Bacharel em Terapia Ocupacional / Especialista em Gestão em Saúde / Estudante do Curso Técnico de Formação de Atores do Teatro Escola Macunaíma / Atriz / Dubladora / Membro da Cia de Teatro Desempaco.

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