Cais ou da Indiferença das Embarcações

Foto divulgação do espetáculo "CAIS"

Um cais como protagonista. Um cais como testemunha dos fatos, dos amores, das traições e da vida de uma comunidade. Enfim, um cais como personagem oculta e silenciosa a testemunhar as histórias de vida de pessoas que estão ligadas por laços do passado. As personagens humanas deste espetáculo estão ilhadas na geografia e nas emoções e este cais as conecta ao continente, assim como umas às outras. Fuga e busca (duas ações separadas por uma linha tênue e, muitas vezes, confusa) são as marcas do enredo desta encenação que está em cartaz no Sesc Ipiranga.

São doze atores e atrizes – uma multidão em tempos de monólogos teatrais abundantes nas salas de espetáculos em São Paulo – trazidos pela “A Velha Companhia” para contar histórias de amor, amizade, traição, dor, morte, busca, utopia juvenil, devaneio infantil, apego e desapego. Enfim, tudo que há de mais humano. Os acontecimentos tem como cenário Ilha Grande, município de Angra dos Reis, e a vida deste lugar é testemunhada por um cais, porta de entrada e de saída da ilha, por onde passam pessoas, mercadorias e os sonhos de alguns dos seus moradores e visitantes.

Foto divulgação do espetáculo "CAIS"

(Foto: Ligia Jardim)

A peça, com texto e direção de Kiko Marques, é um feliz encontro entre as palavras faladas (o texto ganhou o prêmio Shell em 2013) e as palavras cantadas (a encenação conta com dois músicos). A seleção musical escolhida como trilha para Cais… é boa e ajuda na fruição das cenas. O espetáculo tem uma cenografia econômica e o figurino poderia ser mais elaborado, mas isso em nada compromete a encenação. Talvez você ache os primeiros vinte minutos lentos, mas não se preocupe, pois a partir da história de amizades entre dois meninos a encenação ganha ritmo e o expectador é levado para o mundo de Ilha Grande. A peça dura quase três horas, mas isso não a deixa monótona, muito pelo contrário. A descoberta da identidade do narrador ao final do espetáculo também é uma boa surpresa para os espectadores.

Depois de assistir a esta peça, a sua relação com os objetos será diferente. Você perceberá que eles tem história e testemunharam outras tantas. E quando você for à Ilha Grande, a sua relação com aquele lugar não será mais a mesma. Não depois de ver este espetáculo.

No site do Sesc Ipiranga você poderá encontrar a programação do espetáculo “Cais ou da Indiferença das Embarcações”. Os ingressos costumam esgotar rapidamente, mas ainda dá para comprar.

 

Algumas informações:

Texto e Direção: Kiko Marques

Com: Alejandra Sampaio, Kiko Marques, Marcelo Dias e outros

Onde: Sesc Ipiranga

Quando: 14 de novembro a 19 de dezembro

Quanto: R$ 20 (inteira) R$ 10 (Estudantes e Usuários do Sesc) R$ 6 (trabalhador do comércio)

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Flávio José Rocha trabalha com Teatro do Oprimido desde de 2005 e é um apaixonado por todas as formas do fazer teatral. É também doutorando em Ciências Sociais na PUC-SP e pesquisa temas relacionados à questão socioambiental.

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