Virginia Woolf põe medo?

"Quem tem Medo de Virginia Woolf?" de Victor Garcia Peralta

O texto de “Quem tem medo de Virginia Woolf” (“Who’s afraid of Virginia Woolf”?), escrito pelo dramaturgo Edward Albee em 1962, é denso, mas possui diálogos ágeis, inteligentes e acidamente divertidos.

No enredo, Martha e George formam um casal de meia-idade que aparentemente enfrentam uma crise não apenas no relacionamento, mas também existencial. Após uma festa na casa do pai de Martha, o reitor da Universidade onde George leciona história, o casal recebe em sua casa às 2 horas da manhã Nick e Honey – a pedido do próprio pai de Martha. Nick é um jovem e esbelto professor de biologia, recém chegado na cidade e na universidade e, aparentemente, sua união com Honey é perfeita. Os anfitriões e os convidados bebem muito, aproximam-se, estranham-se, discutem sobre conquistas e principalmente frustrações, e madrugada adentro confessam detalhes íntimos de suas vidas.

O grande potencial de montagem da peça já foi mais do que evidenciado nos palcos paulistanos. Algumas apresentações antológicas são invariavelmente recordadas, como a de 1965, estrelada por um quarteto de peso: Cacilda Becker, Walmor Chagas, Fúlvio Stefanini e Lilian Lemmertz, sob a direção de Maurice Vaneau; ou então a de 1978, estrelada por Maria Eugênio de Domênico, Raul Cortez, Roberto Lopes e Tônia Carrero, sob a direção de Antunes Filho.

Dessa vez, a peça é dirigida por Victor Garcia Peralta. No elenco, atores globais como Zezé Polessa e Daniel Dantas são atualmente a garantia de um bom público, embora houvesse certa quantidade de lugares vazios – sobretudo na parte traseira da sala –, mas isso pode se dar em razão do preço ou de uma sexta-feira chuvosa.

De todo modo, quem vai ao belo Teatro Raul Cortez deve estar preparado para enfrentar mais de duas horas de duração de uma representação realista e sem intervalo. Nem todos conseguem e algumas pessoas abandonam a sala ainda durante a apresentação.

Como principais pontos positivos, o cuidadoso cenário é bem explorado no desenvolvimento da trama, e menção especial deve ser feita a Daniel Dantas. Sem dúvida George é o personagem mais carismático: hábil o suficiente para deixar o clima extremamente tenso e logo depois tirar rápidas risadas do público com a sua fala afiada e no tempo perfeito.

Ao final, como de praxe em nossas plateias, o público educadamente aplaude em pé, mas não deve esperar uma palavra derradeira dos atores, que agradecem os aplausos e nada dizem aos espectadores presentes antes das cortinas se fecharem.

O espetáculo estreou nos palcos paulistanos no dia 25 de abril e permanece em cartaz no Teatro Raul Cortez até o dia 27 de julho. Para maiores informações sobre a peça, clique aqui.

Nota: Este colunista assistiu à peça no dia 23 de maio de 2014, uma sexta-feira chuvosa. As impressões aqui expostas são pessoais e não devem ser tidas como opinião do grupo Ator Criador.

Leo Bianco
Leo Bianco é advogado e ator amador. É idealizador e editor do site Ator Criador.

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