Urinal, o Musical

URINAL | ATOR CRIADOR

Urinetown, The Musical é uma comédia musical criada pelos americanos Greg Kotis e Mark Hollman e que trata dos graves problemas provocados pela escassez de água. Parece familiar, não é? No ano em que vivemos a maior crise hídrica da história, estreou no Núcleo Experimental de Teatro, no inicio do mês, a montagem brasileira “Urinal, O Musical”, dirigida por Zé Henrique de Paula, e com direção musical de Fernanda Maia, reunindo treze atores e cinco músicos no espetáculo.

A peça se inicia com a saudação de boas-vindas do Policial (Daniel Costa), o narrador, junto com a Garotinha (Luciana Ramanzini), moradora de rua. Ele conta que uma seca de vinte anos de duração, conhecida como “os anos fedidos”, causou uma terrível falta de água, fazendo com que banheiros particulares deixassem de existir. Assim, toda a necessidade fisiológica da população é realizada em banheiros públicos controlados por uma corporação chamada Companhia da Boa Urina, comandada pelo corrupto Patrãozinho (Roney Facchini). Para controlar o consumo de água, as pessoas devem pagar (e caro) para usar essas dependências. Há leis rígidas garantindo que o povo pague para fazer xixi, e se elas não forem cumpridas, o “culpado” é enviado para uma suposta colônia penal chamada Urinal, de onde ninguém jamais retorna. Tudo caminha bem, até que o jovem Bonitão (Caio Salay), apaixonado pela bela e romântica Luz (Bruna Guerin), filha do Patrãozinho, aprende a ouvir seu coração e inicia uma revolta popular que muda o destino de todos. Não posso mais contar nenhum detalhe senão acabo com as surpresas do espetáculo.

Fiquei muito surpreso ao assistir a este musical nada convencional. Tudo o que as pessoas imaginam quando falamos de musicais não existe nesta montagem. O teatro é pequeno – são apenas sessenta lugares – e aconchegante. O cenário não aparece como mágica; ele já está todo montado – um banheiro, chamado de Conveniência Pública e, ao lado, uma estrutura em dois níveis que, ao longo da peça, se transforma, graças aos efeitos de luz, nos outros ambientes retratados (a empresa, o esconderijo, etc.). Os músicos estão no fundo desta parte. Os atores ficam muito próximos da plateia e não fazem uso de microfone. As músicas, claro, ajudam a contar a história. Existe dança também, afinal é um musical. No entanto, o que move o espetáculo é a interpretação de cada ator. É bonito de ver!

O elenco todo é afiadíssimo. Mas destaco o trabalho de alguns, como Caio Salay e Bruna Guerin. Ele por interpretar de forma visceral o herói; ela, por ser romântica e engraçada na medida certa. Luciana Ramanzini se transforma, de verdade, em uma menininha. Nábia Vilella (a chefe de um dos banheiros) canta e atua brilhantemente. E o excelente Daniel Costa, que dá vida ao Policial. É um personagem delicioso, quase saído dos quadrinhos. Irônico e debochado. Trabalho de corpo e voz impecáveis.

Claro, destaco, também, o belo trabalho com os figurinos, a luz e a banda.

E por que vale a pena assistir? Porque é atual. Porque as mazelas da sociedade são retratadas e ampliadas. Porque faz refletir. Porque foge do óbvio. Porque o “preconceito” contra os musicais deve ser deixado de lado. Porque é teatro!

Então, não dá para economizar com o que é bom! A temporada vai até o dia 6 de julho.

Teatro do Núcleo Experimental
Rua Barra Funda, 637
www.nucleoexperimental.com.br
Sextas, sábados e segundas, às 21h.
Domingos, às 19h.
Valor: R$ 40,00

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Anderson Barfrey é graduado em matemática, estudante de teatro, adora tapetes e musicais.

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