Se eu ganhasse um dólar por toda vez que eu ouço “Fui viver de arte para fazer o que eu amo”, acho que eu seria capa da Forbes. E, de fato, não é incomum no discurso social incentivar-se “fazer aquilo que ama” – seja lá o que isso queria dizer.
No entanto, na prática da profissão artística, esse discurso me parece perigoso. Digo isso não só pelo o que é dito pela boca pequena (vide, esse artigo do The Guardian), mas também por esses olhos que a terra há de comer: muitos artistas, desde estudantes universitários, até aqueles com mais de 300 anos de idade, não recebem ou recebem miseravelmente para realizarem suas profissões como atores, dramaturgos, diretores. E sob qual argumento se sustenta esse cenário de indignidade humana? Viver de arte é difícil e você faz por que a ama? Na minha opinião, como bem disse a jornalista do The Guardian, Lyn Gardner, “Love your arts job? It doens’t mean you shouldn’t be properly paid”.
A completa desconsideração com o profissional da arte, na minha opinião, atinge o limite do fundo do poço nas figuras dos técnicos de iluminação, áudio e demais assistentes. Não só por uma estrutura hierarquizada, bastante questionável, mas também pela falta de crédito dessas funções como profissões integrantes da construção dos projetos teatrais, apesar de sua vital importância.
O cenário também não é animador quando se pensa na atual situação das companhias teatrais. Rebecca Novick no texto Please, don’t start a theater company! nos pergunta: qual a motivação atual para se fundar uma companhia? Penso em companhias representativas das últimas décadas, principalmente as fundadoras do movimento “Arte contra barbárie”, cuja origem se baseia em uma vontade autêntica de estabelecer parcerias em uma nova forma de processo criativo, ou seja, não só pela preocupação em “estar junto”, mas “como estar junto”.
Hoje, será que esses grupos ainda se configuram enquanto uma forma única de trabalho teatral ou se mantém unicamente para obtenção de editais? Em outras palavras quais são as nossas companhias de “sucesso” e como “chegar lá”? E, mais importante, será que esse modelo ainda é condizente com o atual cenário sócio-econômico-cultural-teatral-etc?
A pergunta de como os profissionais da arte se sustentam nesse mundo capitalista sem mercantilizar o seu resultado não é novidade para ninguém. E, de novo, devemos lembrar o movimento Arte contra Barbárie em que o sistema de financiamento público foi bastante questionado e modificado. Mas nunca devemos esquecer que falar a respeito do incentivo às artes não se restringe somente ao financiamento público.
Por todos esses motivos, a Arena do Direito declara sua total aderência à Campanha “Professionally Made, Professionally Paid” e estabelece como proposta para seus próximos textos as seguintes perguntas: como funciona o financiamento público no Estado brasileiro, em todos os níveis da federação? Como se dá o financiamento em outros países? Há vida além do edital, quais outras formas de subsídio? Quais são os direitos trabalhistas dos profissionais do teatro? Há vantagem na sindicalização?
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