Quando recebi o convite para escrever uma coluna sobre a voz do ator, fiquei extremamente feliz. Afinal de contas, tenho paixão por teatro e por voz. Quando falo em voz, não me refiro a apenas ao som produzido pelas pregas vocais, mas ao som que comunica, que expressa, que toca, que bate, que acarinha, que chora, que ri, que beija, que abraça, que soca, que arrepia… Ao som que age, que revela os sentimentos, a personalidade, a história de vida, a alma. Para mim, a voz é a expressão do encontro entre alma e corpo.
Se pensarmos no ator, sua voz é também expressão de diferentes personagens vividos por ele. Por isso, deve ser uma VOZ CRIATIVA. Segundo o dicionário, a palavra “criativa” quer dizer inovadora, inventiva, dinâmica. Ou seja, o ator ao vivenciar as circunstâncias e acontecimentos da personagem, comunica com o outro em cena e com a plateia uma outra vida. Portanto, sua voz precisa ser flexível e dinâmica para se ajustar e se transformar conforme a história, a vida, a alma a ser interpretada.
Um dos fatores está relacionado ao bem-estar vocal. O ator precisa cuidar de sua voz para prevenir alterações vocais. Uma voz com alteração, tende a ser menos flexível e dinâmica. Dependendo da alteração, pode até afastar o ator de seus trabalhos.
Outro fator é a questão da consciência e percepção de suas potencialidades e de suas limitações vocais. Assim, o ator pode aprimorar aquilo que tem de melhor em sua voz e desenvolver tecnicamente aqueles pontos que estão mais limitados. Nesse ponto, o trabalho com alguns recursos vocais – respiração, fonte sonora (pitch), articulação, ressonância e projeção – promove a dilatação e expansão do corpo-voz.
Além desses fatores, a preparação vocal do ator deve se relacionar à interpretação e ao texto teatral. Nesse sentido, é importante se apropriar de alguns pontos do texto, tais como: circunstâncias, os acontecimentos, o superobjetivo, os objetivos das personagens, os conflitos, entre outros. A partir daí, trabalha-se com os recursos (entoação, pausas, ênfase, ritmo, velocidade, etc.) para expressar as intenções, o subtexto, as sensações da personagem. As descobertas vocais que vão surgindo durante o processo podem ser grafadas por meio da Partitura Vocal (proposta por Lucia Gayotto em 1997).
É sobre esses fatores e outros que vamos conversar aqui nesta coluna. Sendo assim, convido todos vocês a viajarem comigo pelo mundo da VOZ CRIATIVA, da comunicação, da expressão, da ARTE.
Se você gostaria de ter sua dúvida respondida ou comentada pela Ariane Moulin, escreva um e-mail para vozcriativa@atorcriador.com.br.