O pequeno espaço da Cia. Confraria da Paixão, na Barra Funda, recebe até dezembro o espetáculo “Um Bravo Canto Para Desatar os Perversos Nós!”. Com texto, direção e atuação de Luiz de Assis Monteiro, o monólogo traz para o público a riqueza da poesia popular e o questionamento sobre o seu lugar na cultura brasileira, em comparação com a chamada “poesia erudita”. A primeira, como sabemos, anda muito desprestigiada até nas escolas e, como diz o poeta baiano Antônio Vieira em seu poema Poetas Populares, tão bem declamado pela cantora Maria Bethânia:
“A nossa poesia é uma só Eu não vejo razão pra separar Todo o conhecimento que está cá Foi trazido dentro de um só mocó.”Ao apresentar alguns dos maiores poetas populares da nossa cultura, Luiz ajuda aqueles e aquelas que desconhecem alguns gênios desta vertente da arte de tecer as palavras para expressar os sentimentos a preencherem essa lacuna.
Luiz de Assis Monteiro, que também é poeta, começa o espetáculo bem antes de chegar ao palco, como fazem os bons artistas de rua para cativar o seu público. É uma espécie de aquecimento com os espectadores para prepará-los para o que virá mais adiante. A relação com o público é uma das armas bem utilizadas por Luiz. Essa interação continua durante todo o monólogo, mas sem agressões ou falta de respeito para com este.
Algumas cenas do monólogo retratam o descaso dos “donos do conhecimento” brasileiro com os poetas populares. O ponto algo da peça está na cena do poema Confissão de Caboco de autoria de Zé da Luz. Esta poesia é uma denúncia sobre a questão do analfabetismo em nosso país feita há décadas por aquele poeta, mas que ainda continua bem atual. Impossível não se emocionar com a interpretação de Luiz para esta cena.
Uma das intenções do espetáculo “Um Bravo Canto Para Desatar os Perversos Nós!” é “(…) assumir a defesa do povo e da cultura popular. Para tanto, seleciona sete poetas populares e, a partir de seus poemas, convida o público para uma reflexão sobre a perversidade da elite do poder público, que mergulhou o povo brasileiro na miséria, promovendo, de forma desumana, a alienação cultural e a perda de sua dignidade.” Não pense o leitor e a leitora do Ator Criador que Luiz tem a intenção de advogar a poesia popular como superior. Seu desejo é dar a ela o devido valor que lhe é negado nas últimas décadas.
Este monólogo é um grito com a intenção romper as mentes de quem pouco conhece a poesia popular brasileira. Há algo de quixotesco em sua proposta, mas não no sentido de pregar para moinhos de vento, já que a arte sempre atingirá as mentes mais abertas. Luiz comporta-se como um sacerdote a pregar a sua verdade, mesmo que seja para o deserto de concreto desta cidade múltipla. Cidade onde alguns ainda preferem, muitas vezes, dar ouvidos a “comediantes” de stand up com piadas preconceituosas e/ou racistas a embevecer-se com a melodia de versos brilhantes. E se este espetáculo parece quixotesco, é bom lembrar que Cervantes eternizou o seu personagem Dom Quixote ao nos convencer de que é melhor “lutar, quando é fácil ceder.” E é essa luta pela busca do reconhecimento da poesia popular que alimenta “Um Bravo Canto Para Desatar os Perversos Nós!”
Ao decidir ir ver este espetáculo, chegue mais cedo e aproveite para conferir os cordéis e as xilogravuras expostos na sede do grupo. A Cia. Confraria da Paixão também guarda um valioso acervo de cordéis e esculturas e pretende ser uma referência para os amantes da arte produzida fora dos padrões comercias vigentes na cidade de São Paulo. Naquele espaço também são oferecidos cursos e oficinas sobre teatro popular, cultura brasileira, dramaturgia, entre outros, com a intenção de possibilitar reflexões sobre estes temas e enriquecer a cultura paulistana.
Para as pessoas interessadas em ver “Um Bravo Canto Para Desatar os Perversos Nós!”, recomenda-se reservar os ingressos às quartas e às quintas, no horário comercial, pelo telefone 3667.3497, já que a capacidade do teatro é de apenas 25 lugares.
Um Bravo Canto Para Desatar os Perversos Nós!
Recomendação: a partir de 14 anos
Quando: Sextas e Sábados, às 21 horas – até 14 de dezembro de 2014
Onde: Teatro da Cia. Confraria da Paixão
Rua Lopes de Oliveira, 659
Barra Funda – Fone: 3667.3497
(Ao lado do Metrô Marechal Deodoro)
Quanto: R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (Estudantes)
Informações: http://www.confrariadapaixao.com.br/
* As Impressões publicadas neste site refletem as opiniões dos respectivos autores, e não representam a opinião do Ator Criador, que não se responsabiliza e nem podem ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações. Este é um espaço voltado ao livre pensamento e à liberdade de expressão.