Primeiramente, é importante indicar que não há uma graduação específica para se tornar um dramaturgo e isso gera uma série de questionamentos como: qual é o melhor caminho a se seguir; como eu defino quem é (ou não) um profissional de fato; como se especializar na área; entre várias outras dúvidas.
Dramaturgo é uma expressão que tem origem no grego “dramatourgós“, que significa autor de peças, sendo estes textos dramáticos destinados à representação por atores no teatro (existe também a teledramaturgia onde o canal final seriam novelas, filmes, séries, etc., mas irei focar somente no teatro).
Reuno aqui uma série de informações e dicas relevantes sobre o tema, já que também estou trilhando este caminho e sofri para encontrar coisas interessantes por aí. Lembrando que se você tiver alguma dica legal ou experiência interessante, use o canal de comentários do post. =)
Sim. Se você é formado em Letras com especialização em Dramaturgia isso com certeza o ajudará bastante. Porém, não o definirá como um dramaturgo.
Estamos falando aqui em algo que o ser humano faz desde o tempo das cavernas, talvez a principal habilidade para se criar empatia e relacionamento, e que transformou o nosso desenvolvimento como sociedade: nós contamos estórias. Somos fascinados por elas, estão basicamente em nossa essência!
Na minha opinião, a formação pode ajudar em vários níveis mas não necessariamente o transformará em um dramaturgo.
Acho interessante pontuar aqui também que uma pessoa com formação em Psicologia poderá fazer excelentes trabalhos dramáticos com signos da psique humana e criação de personagens com fortes traços arquetípicos. Inclusive, esse mesmo psicólogo pode decidir escrever sobre um tema nem um pouco relacionado com a sua especialidade e ser ótimo nisso.
DICA #1: Escreva de maneira criativa
Muitas pessoas responderiam “escrever bem” mas temo que esta não seja a melhor resposta, e sim, possuir habilidades em escrita criativa. Isso é bem diferente e importantíssimo!
Quando você tem uma ideia e deseja escrever, é natural para um iniciante que o seu desempenho seja baixo e o resultado final não alcance aquele objetivo desejado. Isto é falta de técnica e experiência.
Há uma diversidade bem interessante de cursos e livros que podem te ajudar a dominar essa técnica. Aconselho adquirir cópias de vários livros e se inscrever em um curso ou workshop sobre escrita (fiz uma lista com uma série deles no final da matéria).
Dominar a técnica de escrita criativa é um excelente primeiro passo para se tornar um bom dramaturgo.
DICA #2: Conheça o seu meio
Um dramaturgo escreve para o teatro e só nesse meio você poderá atuar na tragédia, na comédia, no drama histórico, no drama burguês, no melodrama, na farsa e até mesmo no gênero musical. Conhecer bem cada formato te ajudará a explorar melhor a abordagem da sua ideia criativa.
Assista à peças de todos os gêneros, leia roteiros, participe de processos criativos como assistente de direção e de discussões em fóruns das suas peças preferidas, atualize-se acerca dos ambientes (teatro italiano, teatro de arena, teatro de rua, etc.), enfim, mergulhe de cabeça no teatro.
Em qualquer profissão, compreender bem o seu meio é vital para ser bem sucedido nele.
DICA #3: Pesquise, leia, leia mais e depois escreva
Nada pior do que a sensação de você ter aquela ideia incrível de peça que faria todos se emocionarem e, talvez, te chamarem de o próximo Ariano Suassuna, e então descobrir que o tema já foi abordado antes. =(
Na vida de um escritor isso é tão comum que não nos espantamos tanto quando nos deparamos com uma situação dessa. Portanto: pesquise bastante, leia muito e escreva menos.
Opa, espere um pouco. Escrever não é o mínimo que devo fazer da vida para ser um dramaturgo?
Sim e não. Você vive de escrever, mas se não parar para pesquisar, ler e se atualizar, poderá se ver nunca conseguindo lançar as suas obras ou, até mesmo, não encontrando a sua voz, fazendo com o que seu trabalho não se destaque.
Escrever de menos aqui significa escreva com inteligência, determinação e objetivo. Saiba exatamente o tema que deseja abordar, crie somente os personagens que de fato ajudarão a desenrolar a sua estória, desenvolva diálogos precisos. Seja econômico e crie um mundo ideal para o seu enredo, isso só será possível se você fizer um bom trabalho de pré-análise e estudo da sua peça.
DICA #4: Seja organizado
Nunca é demais falar isso: seja organizado.
Defina um horário diariamente para praticar a escrita e trabalhar na sua obra. Tenha um caderno específico ou utilize de ferramentas como o Evernote para agrupar informações de pesquisas, anotações e insights.
Na hora de escrever, você poderá utilizar Word, Bloco de Notas, uma máquina de escrever (aproveite e cresça um bigode ou use um laço na cabeça tomando um chá verde para se tornar um hipster) mas, não importa o modo, faça-o de maneira organizada.
Perder-se na sua criação é comum para quem não tem experiência e, planejar a criação, não diminui em nada o seu brilhantismo. Na verdade, a maioria esmagadora das obras, reconhecidas ou não, foi planejada desde a sua primeira letra.
Eu sou um escritor do meio digital e gosto de organizar tudo no Evernote. Na hora de escrever, utilizo o programa Celtx que já possui formatos pré-definidos para teatro, cinema e publicidade, além de um organizador próprio. Vale a pena conhecer.
DICA #5: Vá até o final
Outra dica que serve para universos fora da dramaturgia: se começou, termine.
Você será um dramaturgo melhor (ainda mais no começo) esforçando-se com muito energia em toda a proposta de trabalho criativo que desejar trabalhar.
Criar não é fácil. Exige disciplina, vontade, paixão, conhecimento, técnica. Lembre-se que o pote de ouro está no final do processo e, se você parou na metade, na realidade não fez nada.
Dificilmente o seu primeiro trabalho será excelente, mas termine-o. Percorra todo o caminho e domine o trajeto.
Essa é outra parte importante do processo (às vezes dolorida) que é apresentar sua obra a outras pessoas. Indico começar por selecionar três pessoas que você conhece e que são realmente sinceras. Nada daquele papo de “adorei”, “maravilhoso”, “que incrível”, etc. Você pode até conseguir alcançar esse resultado mas tenha esse feedback de pessoas que sempre são honestas contigo.
Depois dos comentários e considerações dos seus amigos você poderá ou não ter vontade de alterar uma cena ou um diálogo. Faça o que achar melhor para o seu texto.
Após este passo, você estará pronto para visitar alguns diretores de teatro e apresentar a sua peça a eles. Escolha uns cinco diretores que melhor se adequam à sua obra e visite-os individualmente, dando um período de um mês para cada um deles fornecer uma resposta do seu trabalho. É muito provável que a sua peça receba críticas e análises dos diretores, reflita sobre elas e aprimore ainda mais a sua experiência de escrita.
É interessante não enviar a sua peça para todos os diretores de uma vez porque pode ser que a sua criação desperte o interesse de mais de um diretor e, neste momento, não é legal eles descobrirem que tem mais uma montagem interessada na peça. Se nenhum dos diretores quiser fazer a montagem, escolha outros diretores e mantenha o foco. Se você acredita na sua obra, ela vai se tornar realidade.
O Ator Criador irá escrever em breve uma matéria para quem deseja dirigir a própria peça ou está atrás de incentivo financeiro. Esta pode ser outra solução viável para que a sua obra seja montada.
Seguir as dicas que forneci aqui com certeza ajudará um iniciante a ser um profissional organizado e focado. Essa é uma trilha que todo escritor já passou, não importa o quão importante e bem sucedido ele seja hoje.
Adoraria receber críticas e sugestões sobre o texto, além de dicas para se tornar um dramaturgo, pois será uma ajuda para todos.
Finalizo esta matéria com uma provocação:
Imagine uma sala com uma TV de altíssima tecnologia e um Home Theater que capta a menor alteração de ruído possível em alta definição. Nesse instante está passando um excelente filme na TV mas não há aúdio saindo das caixas de som. Não há ninguém na poltrona reclinável (que também faz uma ótima massagem). O dono desse “cinema” está em pé, com a orelha grudada num copo, encostado na parede, ouvindo a discussão do vizinho.
“Introdução à Dramaturgia” de Renata Pallottini
“Dramaturgia, A Construção do Personagem” de Renata Pallottini
“O Herói de Mil Faces” de Joseph Campbell
“A Poética Clássica” de Aristóteles
“Moderna Dramaturgia Brasileira” de Sábato Magaldi
areias001
6 de outubro de 2015 em 4:07 pm
Gostei bastante da matéria. É muito complicado a questão da escrita criativa em um universo com material em abundância.
Indicaria dois ótimos livros que li recentemente também:
“Para frente e para trás” de David Ball, ele tem uma abordagem bem simples e é muito fácil de entender. e
“Caos/Dramaturgia” de Rubens Rewald, esse trata muito do que ele chama de escrita “work in progress” vale a leitura.
Miriam Isabel Parra
3 de setembro de 2020 em 12:43 am
Achei muitkmuito boa as orientações agora e pratcar e ir ate o final.