Há pouco mais de um mês, chegou à São Paulo o espetáculo Cazuza – Pro dia nascer feliz, O Musical, após uma temporada de absoluto sucesso no Rio de Janeiro e turnê em várias cidades do país.
Nesta minha primeira impressão para o Ator Criador, aproveito para fazer minha primeira confissão: sou apaixonado por musicais! E paixão não se explica. Só sei que gosto! Acho lindo! Fico fascinado com este gênero teatral que reúne artistas que cantam, dançam, tocam.
Embalado pelo sucesso de público e crítica do musical Tim Maia – Vale Tudo, o diretor João Fonseca, com “Cazuza”, apresenta-nos seu segundo espetáculo biográfico. O enredo dispensa maiores explicações: em quase três horas de peça, o público conhece a história do “maior abandonado mais famoso do Brasil”, em dois atos: o primeiro, centrado em sua ascensão à fama (como vocalista da banda Barão Vermelho e em carreira solo); o segundo, na descoberta de que estava com AIDS, até sua morte precoce, com 32 anos.
O fio condutor da história é Lucinha Araújo, a mãe de Cazuza. Tudo é contado de forma honesta e natural. A homossexualidade, romances e o uso de drogas. As brigas com os pais, amigos e companheiros do Barão. O lado questionador, rebelde, poeta. O roqueiro que também gosta de samba e bossa nova.
Apesar de dramático, o espetáculo tem um tom bem-humorado, evidenciando que Cazuza – ou Caju, como era chamado na intimidade – tratava a doença sem grandes dramas.
O cenário é simples e limpo. Seis praticáveis estão o tempo todo no palco, distribuídos numa estrutura meio desequilibrada, prontos para receber os objetos de cada cena, e que podem ser tanto a casa do artista, a gravadora, o hospital ou a pedra do Arpoador.
Foram reunidos alguns dos maiores clássicos de Cazuza, tanto em carreira solo quanto com a banda Barão Vermelho, como “Pro Dia Nascer Feliz” e “Codinome Beija Flor”, além de “Ideologia”, “O Tempo Não Para”, “Exagerado”, “Brasil” e “Faz parte do meu show”. As músicas não obedecem à cronologia dos álbuns. No entanto, foram distribuídas de tal sorte que ajudam a contar a história – essa sim, evidentemente, cronológica. E ali, prestando atenção nas cenas, escutei, de verdade, cada frase, cada refrão. E me emocionei em muitos momentos.
Lucinha Araújo, João Araújo, o produtor Ezequiel Neves, Frejat e toda a banda, Ney Matogrosso, Guto Graça Mello, Bebel Gilberto, Caetano Veloso, Leo Jaime, Zeca Camargo e Serginho Maciel são interpretados na montagem. Alguns atores dão vida a mais de um personagem. Há interpretações quase caricatas, mas nada que acabe com a magia. Ezequiel, por exemplo, é o lado cômico do espetáculo. Lucinha e João são a ternura, a emoção, a dor.
A atuação de Emílio Dantas, o protagonista, é impecável! Musicalmente é o mais preparado (antes de ser ator, já era cantor). Impressionante que, com bastante sutileza, ele te leva para o Cazuza, mesmo sendo absolutamente diferente fisicamente. A voz é do Cazuza. Os gestos são do Cazuza. Ele é o Cazuza!
Como é impossível para o ator emagrecer em duas horas, destaco o trabalho da maquiagem e iluminação nas cenas da fase terminal. Tudo isso, somado à energia mais baixa do ator, culmina com a verdade cênica que tanto se espera.
Saí do espetáculo instigado a pesquisar mais sobre este artista, que foi o grande cronista da juventude brasileira dos anos 80. Que gostoso quando uma peça desperta algo. Quero conhecer mais sua obra e não apenas ouvir o que toca nas rádios. Desejo escutar. Vale a pena! Porque Cazuza vive!
Direção: João Fonseca
Texto: Aloísio de Abreu
Elenco: Emílio Dantas, Susana Ribeiro, Marcelo Várzea, André Dias e outros.
Local: Teatro Procópio Ferreira
Datas: de quinta a domingo, com ingressos de R$ 50,00 a R$ 180,00.