4ª Reticência: há uma faísca.

Imagem divulgação da peça 4ª Reticência

Existe uma espécie de combustível ou faísca que move uma pessoa. Não importa qual seja a sua área de atuação ou hobby, se você encontrar este tipo precioso de motivação é bom que o alimente e que o mantenha em constante contato, para que te ajude a buscar energias no alcance de melhores resultados e inspiração.

Para quem, como este Ator Criador, trabalha diretamente com teatro, é muito comum que esta faísca seja encontrada no processo de montagem de uma peça, em uma pesquisa, no desenho de projeto de luz e cenografia ou em tantas outras áreas que este universo possui. Para quem é apaixonado, essa função nos foca em fazer o melhor e, não dificilmente, passamos horas e horas trabalhando sem sentir cansaço. Culpa dessa tal faísca.

Há ainda um outro lugar onde podemos nos beneficiar com essa fonte: indo ao teatro. Esse é um dos locais mais propícios para se alcançar essa espécie de nirvana dos sentidos, um espaço onde somos impactados por ideias e generosidade representadas por tantas companhias de atores. Adoro quando vou ao teatro e essa sensação de querer fazer “mais, melhor e agora” me toma.

Confesso, porém, que foram poucas as montagens que me impactaram dessa maneira: Luis Antônio / Gabriela de Nelson Baskerville pela Cia. Mungunza de Teatro, A Idade da Ameixa de Aristides Vargas pela Cia. das Ameixas, Caixa de Areia de Jô Bilac. E, neste último dia 27/08, reencontrei essa alegria com 4ª Reticência de Ed Fuster e Karen Francis.

Assistir a essa peça foi um grande presente e muito se deve ao visível esmero dos dois atores / escritores / diretores na concepção e execução de todos os componentes cênicos, e de como a história é destrinchada durante os 80 minutos em que a peça se desenvolve.

Sobre a 4ª Reticência

A peça tem a proposta de abordar os afetos dos relacionamentos em nossos tempos dentro de um espectro completo, não excluindo todas as configurações afetivas, e com uma certa mensagem social (para quem ainda necessite de tal lição). Um texto com um bom equilíbrio de drama e humor causa uma ampla variedade de sentimentos e reações, vezes ocasionadas através das lindas imagens produzidas pelo coletivo e, em outras, no retrato do (des)compasso que se comunica com experiências e vivências do próprio público. Um convite à emoção e não uma imposição da razão.

No palco, a impressão é que não houve centímetro intocado pelos atores. Muita sabedoria no uso do espaço, dos props e dos itens de cena define uma precisão na escolha de direção que, em muitos outros espetáculos, chega a ser desmedida. A preocupação com o trabalho de corpo dos atores é notável nos momentos de transição do tempo-espaço, na voz e na utilização de técnicas da dança contemporânea para uma composição “sem toque”. Em um momento que me comoveu bastante, Karen conta a história completa de vida da sua personagem (Ana), do nascimento à morte, apenas com seu corpo.

O uso da tecnologia – uma das minhas paixões no teatro – é feito através de projeções em que os atores chegam a interagir durante a apresentação, conseguindo tanto ligar o conteúdo à nossa condição high tech atual como maravilhar os espectadores como um recurso cênico potente. O som é quase minimalista e pontual, exceto em momentos quando, nitidamente, houve a intenção de apresentar músicas e referências da cultura popular – tópico que devo assistir mais uma vez para tratar com propriedade.

4ª Reticência foi criada com um grande respeito ao teatro, isso é visível. Com todas as propostas utilizadas em cena, seria muito fácil se perder na confusão Proposta x Espaço, algo que não aconteceu e que dá aquela sensação boa de coisa nova, de ter dado um passo a mais.

Saindo do teatro, fiz as seguintes promessas: (1) quero assistir a essa peça diversas vezes; (2) é meu dever fazer todos que conheço assistirem; (3) vou trabalhar mais forte e chegar nesse nível.

É isso o que acredito que uma peça deva fazer sentir, e é isso que 4ª Reticência irá te entregar. Imperdível!

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Walther Fornaciari Neto é Empresário / Publicitário / Roteirista / Ator em (desin) Formação / Assistente de Direção / Dramaturgo em Formação / Músico / Nerd / Membro da Cia de Teatro Desempaco.

1 Comentário

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    Clito Fornaciari Neto

    11 de setembro de 2014 em 3:49 pm

    Gostaria de ter a mesma eloquência do autor desta resenha, mas me falta palavras. Certamente a descrição feita nos deixa um desejo intimo de assistir esta peça, aguça nossa curiosidade.
    Parabéns Walther Fornaciari Neto.

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