Wicked

Minha história com Wicked começou quando ouvi a música Defying Gravity, que faz parte do musical. Foi paixão instantânea! Antes, porém, vou dividir uma experiência: no meu curso de teatro, estava passando por um processo muito doloroso; talvez o mais difícil da minha formação. O diretor informou que cada um dos alunos cantaria uma música na peça do semestre. Não podia ser em português e não teria trilha mecânica. Tentei fugir, mas como não foi possível, escolhi esta música. Nos primeiros ensaios, tremia e suava muito. Com o passar do tempo, cantava quase falando, pois adaptei da maneira mais confortável para mim. Depois que tudo acabou, percebi que aquele diretor que me incomodava tanto, na verdade, estava me desafiando a cada aula. Eu também me desafiava. E cresci muito com isso. Então, esta música tem um significado muito forte para o meu teatro.

Voltando ao tema, foi a partir da música que comecei minha pesquisa para descobrir tudo o que podia sobre ele. Falava sempre: preciso assistir! Wicked já foi visto por 48 milhões de pessoas, nos vários países em que foi montado. Na Broadway, está em cartaz desde 2003 e é um dos mais rentáveis e aclamados. Os fãs estão pelo mundo inteiro. Eu, declaradamente apaixonado pelo gênero, esperava há muito tempo que ele chegasse por aqui (em breve quero assistir lá). Mas só existiam especulações. Até que anunciaram a vinda. Meu coração ficou verde na hora!

Em resumo, o espetáculo narra a história das bruxas de Oz, antes da chegada de Dorothy, do filme O Mágico de Oz. Glinda é a boa, loira e popular; Elphaba é a má, tem a pele verde-esmeralda e é rejeitada por todos. Elas têm os caminhos cruzados, vivem conflitos, vão do ódio à amizade e se apaixonam pelo mesmo rapaz.

O musical me impressionou em todos os sentidos. Os cenários são grandiosos e surgem como mágica. Figurinos impecáveis. As versões das músicas ficaram excelentes e ajudam a contar a história (confesso que era meu maior medo, principalmente pela emblemática Defying Gravity). O ensemble é competente. Como personagens principais estão Giovanna Moreira (em ótimo momento) como Nessarose (irmã de Elphaba), Sergio Rufino, como o Mágico de Oz, Adriana Quadros, majestosa como Madame Morrible, César Mello, irreconhecível e ótimo como Doutor Villabond, Bruno Fraga como Boq e Jonatas Faro e André Loddi alternando o personagem Fyiero.

As talentosas protagonistas, Fabi Bang (Glinda) e Myra Ruiz (Elphaba), que acompanho há algum tempo, estão no melhor momento de suas carreiras. Interpretam personagens fortes, mas, não fosse o talento delas, o resultado não seria o que vi. Elas ganham a plateia e crescem a cada cena. Vi o brilho no olhar de quem está realmente presente no palco.

Sobre a Myra existia o peso de interpretar Elphaba, considerada a personagem mais difícil da Broadway. Ela é a atriz mais nova a defendê-la. As músicas são dificílimas e exigem uma grande extensão vocal. Ela consegue. Canta lindamente e finaliza o ato 1 de maneira arrebatadora, ao desafiar a gravidade. Foi aplaudida desde o primeiro momento em que pisou no palco. Fiquei pensando o motivo pelo qual esta personagem encanta tanto as pessoas… não é só pelo fato de ser verde, “diferente”! As pessoas se identificam com ela. É vista como forte, mas é frágil quando está sozinha. Tem sonhos. Lida com frustrações. Ama. Como qualquer um.

A história de Wicked não é maniqueísta. Naquele mundo de fantasia (que é o teatro que gosto, que estimula minha imaginação) não existem pessoas só boas ou más. Assim como na vida real, não existe verdade absoluta. E Glinda e Elphaba passam por todos os conflitos para poderem crescer. E só cresceram porque uma fez parte da vida da outra. Na cena em que elas se encontram pela última vez, fiquei muito emocionado. A música é linda e tem um trecho em que elas falam: “por sua causa, tudo mudou em mim!”. Chorei. Está reverberando até agora.

Recomendo. E, claro, vou assistir de novo!

Serviço:

Wicked – A história não contada das bruxas de Oz
Onde: Teatro Renault – Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411 – Bela Vista, São Paulo
Quando: Quintas e sextas às 21:00; Sábados às 16:00 e 21:00; Domingos às 15;00 e 20:00
Quanto: de R$ 50 a R$ 260 em Tickets for Fun

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Anderson Barfrey é graduado em matemática, estudante de teatro, adora tapetes e musicais.

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