O Homem de La Mancha, o Musical

Por Anderson Barfrey em 7 de outubro de 2014

Foto divulgação do musical O Homem de La Mancha

Em comemoração aos 50 anos do Teatro do Sesi-SP e, dando continuidade ao projeto Teatro Musical do Sesi, o público paulista pode assistir gratuitamente ao espetáculo O Homem de La Mancha, inspirado em Dom Quixote, da obra de Miguel de Cervantes.

Miguel Falabella é o responsável pela versão e direção do musical. Ele não perdeu a essência original da peça, porém, adaptou a montagem para o Brasil dos anos 30. Nesta versão, a prisão da Inquisição do texto original foi transformada em um manicômio.

Ao entrar no teatro, as primeiras fileiras e o palco estão no escuro, para não estragar a surpresa, já que não há cortinas. Após o último sinal, as luzes se acendem e o público é transportado para a magia daquele universo.

O cenário é imponente, feito em dois pavimentos, com quatro escadas semicirculares (duas centrais e duas laterais) que levam os atores ao piso superior. Tudo feito de aço. Nas paredes, muitas frases escritas; como objetos, cadeiras de rodas antigas, utensílios hospitalares, malas, lixeiras e outros característicos.

O enredo conta a história de um paciente, Alonso Quijana, um velho fazendeiro, que é anunciado para internação. Triste pelas injustiças do mundo e tomado pela loucura, ele se apresenta como Miguel de Cervantes, poeta, ator e coletor de impostos que chega acompanhado por seu criado, Sancho.

Os loucos do hospital os atacam e roubam seus pertences. No entanto, Cervantes só se preocupa com seus manuscritos e faz um apelo ao Governador do local (o líder dos loucos), que instaura um julgamento. Cervantes, então, prepara sua defesa convidando os loucos a encenarem uma peça de teatro. É uma peça dentro da peça.

O Governador foi inspirado na história de Bispo do Rosário – marinheiro sergipano (diagnosticado como louco, ficou 50 anos preso numa colônia) e artista plástico cujas obras eram feitas com sucata e materiais retirados do lixo.

Os figurinos são, ao mesmo tempo, simples e exuberantes. Joias são feitas com lata amassada e capacetes com panelas; talheres se transformam em coroas; trapos, em luxo!

O texto é mais introspectivo e nos faz questionar, a todo o momento, quem é normal na nossa sociedade. Cervantes (Cleto Baccic) convence sua amada Dulcinéia (na verdade, a prostituta Aldonza, interpretada por Sara Sarres) e os outros internos de que a realidade é outra e não a que foi imposta. E que a vida deve ser vista como ela deveria ser e não como ela é.

As músicas são emocionantes. A orquestra destaca-se pela posição ocupada no piso superior do cenário. Todos os músicos estão vestidos com os uniformes do hospital e fazem parte da história.

Estão no espetáculo grandes nomes do Teatro Musical, como Frederico Silveira, Ivan Parente e Kiara Sasso, porém os destaques são Sara Sarres (após interpretar várias mocinhas, surpreende na pele da prostituta desbocada) e Cleto Baccic (que transmite com o olhar, a fragilidade e obstinação do personagem), maravilhosos em cena, atuando e cantando. As atuações de Guilherme Sant’anna (Governador) e Jorge Maia (Sancho) também são marcantes. E todos afinados com o preparado, competente e grandioso elenco – ótimo nas coreografias e na criação dos personagens.

Destaque, também, para o excelente trabalho da iluminação e produção.

É mais um espetáculo que vale a pena divulgar no site Ator Criador. Impecável e imperdível!