Mudança de Hábito – A Divina Comédia Musical da Broadway

Mudança de Hábito | Ator Criador

Estreou há pouco mais de um mês, em São Paulo, o Musical “Mudança de Hábito – A Divina Comédia Musical da Broadway”. Fiquei ansioso para assistir ao espetáculo, já que sou fã de musicais e do filme estrelado por Whoopi Goldberg.

A história é praticamente a mesma do filme: Deloris Van Cartier (Karin Hils), aspirante à cantora e namorada do mau-caráter Curtis (Cesar Mello) presencia um crime e corre risco de morte. Por ideia do policial Eddie (Thiago Machado), se refugia num convento e tem que seguir uma disciplina rígida imposta pela Madre Superiora (Adriana Quadros). E lá, usando suas habilidades musicais e sua voz poderosa, ela transforma a rotina das freiras, especialmente ao reorganizar o coro apático em um conjunto vibrante. Entretanto, tem seu disfarce descoberto com o sucesso

Nesta adaptação, a ação foi transportada para a Filadélfia dos anos 70, época em que o estilo soul dominava. E para isso, foi composta uma trilha sonora original. Nenhuma música do filme faz parte do espetáculo e, confesso que fiquei desapontado quando soube. No entanto, as músicas são tão contagiantes que não dá para sentir falta.

É um musical divertidíssimo. Tem todos os elementos que os adoradores de musicais gostam: cenários grandiosos, figurinos lindos e com trocas em segundos e muito brilho!

Com relação ao cenário, tudo aparece e desaparece do palco num piscar de olhos: bares, delegacia, boate, igreja e, claro, o convento. Este último vai se tornando cada vez mais suntuoso à medida que o coro das freiras ganha mais sucesso.

Os figurinos são uma atração à parte. Os hábitos das freiras, por exemplo, são inicialmente sisudos e vão adquirindo detalhes alegres e dourados no decorrer da história.

Nesta peça que é dominada por mulheres, os homens precisam fazer de tudo para ter destaque. E todos os atores conseguem. Cesar Mello está impecável como o vilão Curtis. Ele canta quase falando e tem um ótimo trabalho de corpo. O trio de capangas – TJ (Tiago Barbosa), Joey (Max Grácio) e Pablo (Beto Sargentelli) rendem momentos hilários. Thiago Machado nos apresenta o policial Eddie, atrapalhado e apaixonado por Deloris, e conquista o público desde o início. Seu solo na peça é um dos mais incríveis. Aliás, é admirável a potência vocal destes atores, que alcançam notas extremamente agudas. Fred Silveira é mais um talento que se junta ao time masculino. Veterano de musicais e, emendando vários espetáculos com personagens carregados no drama, mostra-nos sua versatilidade ao dar vida ao cômico Monsenhor, o único que vê rapidamente a vantagem de ter Deloris entre as freiras e se transforma em “apresentador” dos shows.

Mas, sem dúvida, as freiras são as grandes estrelas e cada uma delas é apaixonante. Daniela Cury (atriz formada pelo Teatro Escola Macunaíma, onde este Ator Criador também á aluno) interpreta a Irmã Maria Lázarus de forma impecável e com doses certas de humor. Andrezza Massei, reconhecida por seu lado cômico, faz uma festa com a deliciosa Irmã Maria Patrícia. Ela parece brincar no palco. A Irmã Maria Roberta é a noviça que têm dúvidas sobre o caminho que quer seguir. É aquele personagem que cresce aos poucos na história e que quando solta a voz, a plateia emite um “uau”. É interpretada brilhantemente pela atriz Ana Luiza Ferreira, estreando profissionalmente nos palcos. Adriana Quadros é a Madre Superiora. Uma construção precisa e, na cena em que mostra todo o conflito da personagem, emociona com seu solo impecável. E, por fim, Karin Hils: linda, talentosa, confiante, carismática e com o tom certo para a comédia. Não consigo, depois de assistir, pensar em outra atriz para dar vida à protagonista. Todas, juntamente com o competente, talentoso e numeroso elenco, conduzem com maestria a história. Embora seja um espetáculo “enlatado” da Broadway e rígido nas marcações, o que não permite muitos improvisos, o gingado brasileiro faz toda a diferença.

A grande mensagem do musical é pregar a tolerância e aceitação ao diferente como principais lições. É um pecado não assistir!

A versão brasileira foi adaptada por Bianca Tadini e Luciano Andrey com direção residente de Fernanda Chamma e direção musical residente de Vânia Pajares.

Mais informações

Sessões: quintas e sextas, às 21h; sábados, às 17h e 21h, e domingos, às 16h e 20h.

Onde: Teatro Renault – Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411

Quanto: de R$ 50 a R$ 260

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Anderson Barfrey é graduado em matemática, estudante de teatro, adora tapetes e musicais.

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