Impressões sobre Estado de Sítio

Quando uma peça te leva a refletir sobre situações do dia a dia, a sociedade em que você vive e, até mesmo, seus próprios valores e atitudes, é porque ela vale a pena ser assistida. “Estado de Sítio”, da Cia Artéria Teatral, traz reflexões que, no atual momento político do Brasil, seria importante que as pessoas assistissem e estarem dispostas a enxergar diferentes lados de uma situação.

A peça, dirigida e adaptada por Mário César Costaz, é uma sátira irreverente à obra de Albert Camus, “Estado de Sítio”. Fui duas vezes conferir o espetáculo. Na primeira, fui com o intuito de prestigiar uma amiga que faz parte do elenco, mas, obviamente, também aberta a receber a mensagem que a apresentação gostaria de passar. Porém, na segunda vez consegui captar nuances do texto que antes não havia notado. Além disso, pude fazer mais reflexões e entender melhor as metáforas da peça.

No começo, a trama apresenta muitas informações e o público deve estar atento para entender o contexto. É mostrado um povo governado pelo seu Governador, um personagem caricato e que faz referência ao sistema capitalista. Há uma nítida divisão entre ricos e pobres, é mostrada a despreocupação dos políticos em relação ao povo, o uso inapropriado do poder por aquele que o possui. Uma crítica a essa forma de governo. Porém, um comunismo retratado pela Peste é mostrado e todas as suas não favoráveis características. Uma quantidade limitada de comida para cada um, horário de recolher, não poder sair da cidade, por exemplo.

Uma característica sempre reforçada na história é o medo. Esse é o sentimento que predomina os demais, na maioria dos personagens. Mesmo o povo querendo mudanças e mudar as condições em que vive, o medo os impede. “Estado de Sítio” nos leva a pensar o que realmente é bom para o povo? Qual é o sistema que vai nos salvar? Quem pode nos salvar? O que é a liberdade? São perguntas que ficaram na minha cabeça ao sair do teatro.

Além disso, o espetáculo é intercalado entre falas e músicas carnavalescas, o que dá um toque especial na apresentação. Cada som passa uma mensagem e no decorrer da peça, conforme mais músicas vão tocando, mais o público se sente a vontade de participar da sessão.

O Teatro Pequeno Ato é pequeno; uma característica que eu, como espectadora gosto muito. Dessa forma quem assiste se sente mais próximo dos atores e é possível criar certa ligação com eles. Essa conexão entre atores e espectadores é uma experiência interessante. A peça fala de um povo e quem está assistindo é um povo, por isso, o público acaba se sentindo parte daquele povo que é retratado na peça.

Há uma fala na peça que diz respeito ao pior tipo de analfabeto que existe. O personagem afirma que é o analfabeto político, aquele que se aliena do que acontece ao seu redor por, simplesmente, não gostar de política. Essa foi frase que marcou para mim e que diz por si só muito sobre a peça, sobre o que ela é trata e porque assistir “Estado de Sítio” é importante no contexto político atual em que vivemos.

As últimas apresentações do espetáculo ocorrem dia 14 e 15 de maio.

Serviço

Quando: Sábado – 21h | Domingo – 19h
Onde: Teatro Pequeno Ato – Rua Doutor Teodoro Baima, 78
Quanto: Inteira – R$40,00 | Meia – R$20,00
*Os ingressos são vendidos na bilheteria, a partir de uma hora antes do espetáculo.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Marina Bianchi
Marina Bianchi é jornalista / estudante da ESPM / atriz de coração. Faz teatro há 10 anos e é curiosa pela cultura da cidade.

Comente