A casa de Bernarda Alba

Uma mãe que estabelece um período de luto de oito anos para suas cinco filhas. Uma época conturbada politicamente na Espanha. Um poeta e dramaturgo vítima da Guerra Civil no país. A peça “A casa de Bernarda Alba”, escrita por Federico García Lorca, está em cartaz no Teatro Commune. Na montagem da CIA London, companhia de teatro de Rafael Mallagutti, a trama é encenada apenas por homens, entre eles o próprio diretor Mallagutti, que interpreta Bernarda Alba, e o ator convidado Ghilherme Lobo, que faz o papel da irmã mais nova, Adela.

“A casa de Bernarda Alba” conta a história de uma mãe, Bernarda Alba, e suas cinco filhas, a partir do primeiro dia de luto de seu ex-marido e pai de quatro das suas filhas. Bernarda institui um período de luto de oito anos, nos quais suas filhas nem poderiam sair de casa. Isso causa uma conturbação na casa; sua filha mais velha tem quarenta anos e a mais nova vinte, e todas têm vontade de estarem com um homem e as cincos se sentem atraídas pelo mesmo.

O cenário é a Espanha em época da pré-Guerra Civil, um período conturbado. Esse é um tempo em que a sociedade é extremamente matriarcal na qual a mulher tem o dever e o poder de cuidar dos assuntos dentro da sua casa. Em entrevista para o Ator Criador, Ghilherme Lobo comenta que o texto todo é uma metáfora do cenário político da época, logo possui explicação metafórica e a explicação do que realmente é visto na peça. “Na peça, essas cinco mulheres se sentem atraídas por um mesmo homem e ele vai pedir a mão da mais velha em casamento, mas todas querem ele. (…) Elas vivem em uma situação de extrema ditadura dentro da casa e cada filha, indo para o lado metafórico, simboliza um político da época”, diz.

A personalidade de cada filha é forte. Adela, por exemplo, não aceita a situação em que está e se rebela. Lobo conta que o processo de criação dos personagens foi a partir da animalização. Uma ideia que veio do diretor, cada ator selecionou um animal que se identifica com seu papel na trama. “Eu escolhi a águia por querer alçar voos, que não quer ficar mais naquele lugar, que enxerga tudo que tá acontecendo e não fala para ninguém. E há um mito que a águia quando chega a determinado momento da vida dela, mais ou menos na metade, as garras dela já estão muito longas e o bico também está comprido. Então ela precisa se isolar em uma montanha, normalmente, arranca todas as garras e quebra o bico pras garras nascerem de novo, o bico crescer de novo e ficarem em um tamanho bom para que ela possa continuar vivendo. Pra mim a Adela, em um momento da peça ela chega nesse ponto, onde o bico já cresceu muito, as garras já foram até onde não podiam mais e ela precisa se renovar”, explica o ator.

Além disso, o fato da peça ser encenada apenas por homens é outra característica da performance. Para Ghilherme, as personagens de Lorca estão no limite da masculinidade com a feminilidade. “Elas são mulheres no texto, mas têm conflitos gerais que podem se dar tanto com homens quanto com mulheres, mas a forma delas lidarem com esses conflitos, caem um pouco para o lado masculino da coisa”, explica. Existem também estudos que Lorca escreveu esse texto para ser encenado por homens.

Lobo comenta que a importância do público masculino de ver a peça é como o machismo da época em que Lorca escreveu a peça ainda existe na sociedade atual. E, além disso, para analisar de fora uma relação entre pais e filhos. “É uma ilusão para homens e mulheres prenderem seus filhos ou suas filhas e acharem que sabem de tudo da vida deles, porque eles não vão saber de tudo”, justifica. A peça está prevista para ficar em cartaz até o dia 29 de abril, toda sexta-feira, no Teatro Commune, às 21h.

Serviço

Onde: Teatro Commune – Rua da Consolação, 1218

Quando: Sexta-feira às 21h

Quanto: Inteira – R$60,00 / Meia – R$30,00

Onde comprar: Cia London

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Marina Bianchi
Marina Bianchi é jornalista / estudante da ESPM / atriz de coração. Faz teatro há 10 anos e é curiosa pela cultura da cidade.

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